
Resenha: ORANGE
O que você faria se recebesse uma
carta de você mesmo dez anos no futuro? O que seria tão importante ao ponto de
você ter que apelar para medidas tão extremas? Esse é o drama em que Naho
Takamiya se encontra ao receber de si mesma uma carta avisando que em dez
anos, um de seus melhores amigos não estaria mais lá. Com a orientação da carta
Naho deve salvar a vida de Kakeru. Essa é a premissa do mangá Orange. Ele é
de autoria de Ichigo Takano, começou a ser publicado no Japão em 2012 e se
encerrou no fim de 2015.
Ler um shoujo sempre é (em
minha opinião) uma experiência muito pessoal e ultimamente bastante repetitiva,
e talvez exatamente por esse motivo, Orange chegou a mim como um soco no
estomago. Quando entendi sua proposta minhas estruturas foram abaladas, fui
capturado em seu primeiro volume com uma facilidade ridícula. Sem perceber
havia entrado naquela espiral de emoções. Eu estava verdadeiramente preocupado
com todos aqueles personagens, coisa que há muito tempo não ocorria (saudades
Sawako-chan; saudades Junpei e seu fetiche por morangos). Em Orange,
salvar Kakeru também se tornou minha missão. Em Orange, além do habitual
romance entre adolescentes (e não há nada de errado com isso quero deixar
claro), também encontramos um verdadeiro drama sobre vida.
O arrependimento é um dos temas
mais abordados na trama. Naho mandou uma carta para si mesma do futuro para o
passado porque apesar de estar casada e com um filho, ela cresceu cheia de
arrependimentos e é seu desejo que sua versão mais jovem faça alguma coisa para
remediar isso. Que arrependimentos você carrega? O que você mudaria no seu
passado? Essas são as perguntas que Orange lhe faz. E lhe ensina que todas as
ações que tomamos hoje estarão conosco por toda nossa vida. É nossa missão dar
o melhor de nós no agora, para que não estejamos arrependidos no amanhã.
A outra temática abordada pelo
mangá é o suicídio. Para mim era quase impossível imaginar como um mangá shoujo
conseguiria falar sobre algo tão grave. Orange faz isso com mérito, delicadeza
e sem parecer forçado. A autora conversa sobre depressão sem nunca nem mesmo
falar essa palavra e com um conhecimento genuíno do assunto. No personagem de
Kakeru temos uma pessoa de sorrisos fáceis e aparentemente feliz, mas cheia de
arrependimentos por dentro. Um personagem extremamente complexo que a primeira
vista seria apenas mais um protagonista comum em um shoujo mangá.
A história é desenvolvida em
cinco volumes (não é ótimo quando conseguem ser breves assim, Kimi ni Todoke?).
Se passando principalmente no presente e com algumas cenas no futuro. A
narrativa segue de maneira fluida, sem se apressar ou se alongar demais. Na
primeira camada temos um lindo romance surgindo entre os personagens de Naho e
Kakeru. Porém em suas outras camadas, ou por detrás dos panos se você assim
preferir, Naho luta para salvar a vida de seu amigo. Ela deve ensiná-lo a se
abrir com as pessoas, a amar a vida outra vez, e acima de tudo, deve ensiná-lo
que apesar de nossos arrependimentos, certas coisas estão além de nosso
controle e que acabar com a própria vida nunca é a solução. Não estranhe se
lágrimas começarem a fluir por seus olhos durante as páginas desse mangá. (Não
que isso tenha acontecido comigo, claro que não......................)
No grupo dos personagens
principais, temos alguns dos clichês de qualquer história: o nerd, a
extrovertida, etc., mas isso não é uma coisa ruim, pois todos são importantes
na missão de salvar Kakeru. Estou me abstendo de comentar mais sobre esses
personagens por motivos de que é melhor conhecê-los enquanto lê a história.
Basta saber que possuímos um núcleo sólido que proporciona momentos engraçados
e descontraídos quando quer, e seriedade quando é preciso. Aliás, posso
estar passando uma visão muito pesada da trama, mas não se engane, Orange ainda
é um shoujo. Isso quer dizer que quando lê-lo você vai se emocionar e se sentir
bem.
A qualidade das ilustrações é boa
e todos os personagens possuem características marcantes de forma que é fácil
identificá-los (sendo sincero não compreendo muito do assunto). e as edições
lançadas no Brasil pela editora JBC cumprem seu papel. Um anime baseado na obra
está planejado para esse ano e um filme foi lançado em 2015.
De modo geral Orange um respiro
de ar fresco em um mercado quer vem se saturando com obras parecidas. E é, sem
dúvida, sugerido para todos, não apenas aos fãs de mangás, mas aquelas que
estão à procura de uma boa história, de uma lição de vida.
P.S.: No final de cada um dos
cinco volumes você vai encontrar uma história extra chamada Haruiro Astronaut .
Ela envolve outros personagens e não tem nada a ver com Orange. De acordo com
autora Ichigo Takano essa mini-história nasceu de sua vontade de desenhar
meninas fofas e meigas. Ou seja, é mais ou menos um shoujo super-mega-adocicado
pra ““aliviar”” um pouco dos temas pesados da trama principal. Um divertido
bônus para aqueles que comprarem a versão física.
Por: Erick Alexandrino, colaborador.
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